SOBRE CONSOLATIO
por Laura Mendes
muitas flores intensamente vermelhas num pedestal branco, longo, macio e aveludado
enquanto a variação do tempo marcava-se pelo metrônomo
num ritmo instável criando oscilações nos que atento observam.
as mãos que suportam flores anunciam que a suspensão não vem de um objeto
mas de uma mulher que envolve rosas em seus braços
abraçada e sozinha
a mulher conforta as flores que não foram recebidas pelo destinatário
ou elas aliviam a inevitável confirmação de seu abandono?
quem consola quem ?
A sala cheia testemunha e experimenta a demora que reclama por sentido
e inquieto, o entorno, busca livrar-se dos desconcertantes fluxos emocionais que se esparramam
e, distraídos, renunciam o tempo necessário de consolo que será absorvido pelos corpos.
Na pausa do metrônomo, interditando o tempo, a mulher tem agora em suas mãos uma corda
talvez possa atá-las definitivamente em proteção
estancando a despedida iminente.
ou numa ilusão suicida
nos casos de consolos não concretizados
as flores despedem-se
de uma mulher só.
O pulsar cíclico dos afetos transforma o conforto da espera em percurso inevitável de solidão
despida das intenções do destino, a renúncia eleva as flores solitárias
e o tempo continua seu curso ritmado, agora, estável
Ainda vivas, as flores, em ascensão, abandonam o conforto ingênuo;
no fim, quando é o fim, ela vai embora.
ph | vídeo | Giusepe Botelho
Experimentações da Arte em projetos | GAIA-Galeria do Instituto de Artes da Unicamp (2017)
DOIS
a imagem da dor não é o sentimento de dor que não é a origem da dor que não é o caminho da dor
ph | Gabi Alonso
Exposição de Artes Visuais e Performance Mulheres a Caminho-
ATAL609-lugar de investigações artísticas- Campinas-SP (2017)